Nosso
Livingstone Econômico pede que eu comente sobre o
artigo do Kanitz sobre um comentário do Delfim Netto. Se eu concordo que as previsões que saem no jornal são meros chutes. Sim, claro. 99.9% das previsões publicadas na mídia são totalmente sem fundamentos quantitativos. Bom, a maioria absoluta dos comentários econômicos de jornais são totalmente subjetivos e ninguém deveria apostar seu dinheiro nisso.
Mas discordo de todo o resto. Primeiro existem leading indicators confiáveis (aliás existe uma literatura monumental sobre isso - de Stock e Watson, Hamilton, os artigos da Marcelle Chauvet, do João Victor Issler e seus co-autores, etc, etc). Mas tenho certeza que a maioria dos comentaristas de jornal jamais tenha lido algo a respeito, ou se importado em pesquisar sobre o assunto. Então na literatura econômica existem leading indicators confiáveis, embora com variabilidade elevada como seria esperada em previsões de longo prazo.
E discordo totalmente sobre a colocação do Kanitz de que não se deveria publicar as previsões de economistas em jornais. O que deveria ser bastante ponderado são as previsões de "economistas" que não são baseadas em nenhuma análise quantitativa, e na verdade apenas reproduzem a média das opiniões. Previsões baseadas em modelos, como por exemplo as previsões derivadas dos modelos do Banco Central são uma ferramenta importante de decisão.
O problema de modelos de previsão é que eles refletem a informação observada até o tempo das previsões, e assim só são confiáveis se o modelo é robusto a mudanças na estrutura da economia, o que nem sempre acontece, em especial em momentos de crise (o que está relacionado ao conceito de super-exogeneidade), e assim é preciso testar a robustez do modelo nestas situações.
Outro ponto é que não se deve confiar no que os analistas dizem, mas sim no que eles efetivamente colocam seu dinheiro. Assim é muito mais confiável olhar para fontes como a estrutura a termo de taxas de juros como indicadores antecedentes (existe uma literatura importante que mostra que o spread é um antecedente de recessões) do que papo furado.
Informação subjetiva é importante, já que pode refletir informação não presente no histórico de dados (e para isso veja o sucesso de modelos de alocação como o modelo de Black-Litterman), mas para isso devem ser utilizadas técnicas que permitem incorporar esta informação nas previsões de uma forma consistente, como técnicas de Bayesian Forecasting.