Ensino de finanças e a picaretagem das opiniões sem custo
É, acho que o ensino de finanças em alguns programas de Economia não anda muito bom mesmo. Como eu já havia escrito no post anterior grande parte das bobagens que circulam por aí são derivadas do total desconhecimento de princípios básicos de finanças.
Respondendo ao Selva :
"Do outro lado [digamos, o direito], há aqueles economistas que não se importam com a sociedade como um todo. Sua pretensão aparentemente é menor. Eles só desejam bater o mercado. Eles se acham mais inteligentes, mais espertos que o mercado, por isso acham que podem batê-lo sistematicamente com o intuito de enriquecer. Esses são os economistas que se dedicam a finanças. Sua pretensão ao conhecimento e arrogância intelectual, todavia, não é menor do que a dos engenheiros sociais. O mercado é constituído por milhões de pessoas, mas como eles se acham intelectualmente superiores, eles acreditam que suas decisões são melhores e mais poderosas a ponto de manipular sistematicamente essas milhões de pessoas em benefício próprio. Os profissionais de finanças, simples parasitas intelectuais dessa concepção de mundo, acreditam piamente nessa crença."
Qualquer pessoa que tenha olhado de relance em um livro de finanças sabe que dois conceitos fundamentais em finanças são o conceito de mercados eficientes e o conceito de não-arbitragem. Resumidamente o conceito de mercados eficientes estabelece que mudanças sistemáticas de preços não podem ser previstas, e assim não faz sentido que seja possível sistematicamente ter retornos esperados ajustados por risco superiores ao excesso de retorno do mercado. Em nenhum programa de finanças, mesmo os piores, se ensina que é sistematicamente possível bater o mercado. Como coloca o próprio Fama, não faz sentido esperar que fundos ativos tenham retornos sistemáticos ajustados por risco maiores que fundos passivos. E esta evidência tem sido confirmada frequentemente pelos dados. As fundações básicas da teoria de finanças contrariam as afirmações equivocadas do Selva.
O conceito de não-arbitragem é ainda mais poderoso - basicamente ele estabelece que condições de arbitragem não devem existir de forma sistemática. E este é um ponto de confusão. O fato de eu conseguir um retorno maior com uma certa carteira não indica que eu realizei uma operação de arbitragem, já que o conceito de arbitragem é a possibilidade de obter um lucro certo sem risco com custo zero. Se obtenho um retorno maior em uma operação eu estou apenas recebendo o prêmio de risco desse ativo. E novamente o conceito de risco é fundamental. O conceito de não-arbitragem é equivalente ao fato de que preços de ativos na medida (local) martingale equivalente devem ser semi-martingales. A idéia de mudança de medida serve para realizar o ajuste por risco de cada ativo. Essa idéia é fica muito clara quando olhamos por exemplo na formulação de Musiela para o modelo de Heath-Jarrow-Morton, que é a generalização do modelo de Black-Scholes. Assim toda a operação tem risco embutido; se eu quero um retorno esperado maior, tenho que aceitar um nível de risco mais elevado.
Qualquer estudante sabe que se um agente entra em uma transação com informação completa (nesse caso dada pela Filtração medida até o momento do contrato) ele não pode alegar ter sido enganado. Ele poderia alegar ser enganado na presença de informação diferenciada (uma idéia matemática muito elegante dado pela existência de sigmas-algebras distintas), mas nesse caso houve fraude e aí entram em cena a SEC ou a CVM aqui no Brasil.
Qualquer pessoa que leia um prospecto de um fundo de investimento verá que não existe nenhuma garantia de rentabilidade ali, e o que ocorre é um prêmio para o gestor se ele consegue este retorno anormal. Na maioria dos casos não existe persistência de performance, ou seja, um gestor que consegue um retorno acima da média em um período dificilmente consegue em períodos seguintes. Assim se qualquer um aceita colocar seu dinheiro em um fundo de investimento ou segue alguma indicação de compra/venda está fazendo por sua conta e risco. Ninguém é inocente ou está sendo enganado. Apenas comprou uma posição de risco.
Agora sobre o LTCM - eu não sabia que no plano de premiação do Nobel havia a garantia de infalibilidade ou ausência eterna de erros. O LTCM havia assumido posições mais arriscadas em busca de retornos esperados maiores, e devido aos eventos da crise Russa (na verdade uma sequencia bem mais complexa de eventos) o fundo entrou numa posição de insolvência devido a sua elevada alavancagem. Apenas pagou o preço de uma situação para o qual existia probabilidade positiva.
Agora eu pergunto - aonde este evento contraria alguma noção básica de finanças?
Além disso depois da quebra do LTCM, como antes, os modelos de precificação de ativos derivados dos trabalhos de Merton, Scholes, o finado e genial Fisher Black continuaram a ser usados, na verdade com um crescimento ainda muito maior, como é fácil de ver pela evolução do volume e variedade de contratos derivativos transacionados. A teoria matemática de finanças evolui enormemente depois deste evento - a idéia de precificação em mercados incompletos, precificação por não-arbitragem na presença de custos de transação; os conceitos de No Free Lunch With Vanishing Risk; o conceito de Consistent Price System, derivativos de volatilidade e variância, etc. etc etc.
Picaretagem é sair falando de um assunto que desconhece completamente. Mas se quiser estudar um pouco eu coloquei anteriormente algumas indicações de bons livros de finanças.
Respondendo ao Selva :
"Do outro lado [digamos, o direito], há aqueles economistas que não se importam com a sociedade como um todo. Sua pretensão aparentemente é menor. Eles só desejam bater o mercado. Eles se acham mais inteligentes, mais espertos que o mercado, por isso acham que podem batê-lo sistematicamente com o intuito de enriquecer. Esses são os economistas que se dedicam a finanças. Sua pretensão ao conhecimento e arrogância intelectual, todavia, não é menor do que a dos engenheiros sociais. O mercado é constituído por milhões de pessoas, mas como eles se acham intelectualmente superiores, eles acreditam que suas decisões são melhores e mais poderosas a ponto de manipular sistematicamente essas milhões de pessoas em benefício próprio. Os profissionais de finanças, simples parasitas intelectuais dessa concepção de mundo, acreditam piamente nessa crença."
Qualquer pessoa que tenha olhado de relance em um livro de finanças sabe que dois conceitos fundamentais em finanças são o conceito de mercados eficientes e o conceito de não-arbitragem. Resumidamente o conceito de mercados eficientes estabelece que mudanças sistemáticas de preços não podem ser previstas, e assim não faz sentido que seja possível sistematicamente ter retornos esperados ajustados por risco superiores ao excesso de retorno do mercado. Em nenhum programa de finanças, mesmo os piores, se ensina que é sistematicamente possível bater o mercado. Como coloca o próprio Fama, não faz sentido esperar que fundos ativos tenham retornos sistemáticos ajustados por risco maiores que fundos passivos. E esta evidência tem sido confirmada frequentemente pelos dados. As fundações básicas da teoria de finanças contrariam as afirmações equivocadas do Selva.
O conceito de não-arbitragem é ainda mais poderoso - basicamente ele estabelece que condições de arbitragem não devem existir de forma sistemática. E este é um ponto de confusão. O fato de eu conseguir um retorno maior com uma certa carteira não indica que eu realizei uma operação de arbitragem, já que o conceito de arbitragem é a possibilidade de obter um lucro certo sem risco com custo zero. Se obtenho um retorno maior em uma operação eu estou apenas recebendo o prêmio de risco desse ativo. E novamente o conceito de risco é fundamental. O conceito de não-arbitragem é equivalente ao fato de que preços de ativos na medida (local) martingale equivalente devem ser semi-martingales. A idéia de mudança de medida serve para realizar o ajuste por risco de cada ativo. Essa idéia é fica muito clara quando olhamos por exemplo na formulação de Musiela para o modelo de Heath-Jarrow-Morton, que é a generalização do modelo de Black-Scholes. Assim toda a operação tem risco embutido; se eu quero um retorno esperado maior, tenho que aceitar um nível de risco mais elevado.
Qualquer estudante sabe que se um agente entra em uma transação com informação completa (nesse caso dada pela Filtração medida até o momento do contrato) ele não pode alegar ter sido enganado. Ele poderia alegar ser enganado na presença de informação diferenciada (uma idéia matemática muito elegante dado pela existência de sigmas-algebras distintas), mas nesse caso houve fraude e aí entram em cena a SEC ou a CVM aqui no Brasil.
Qualquer pessoa que leia um prospecto de um fundo de investimento verá que não existe nenhuma garantia de rentabilidade ali, e o que ocorre é um prêmio para o gestor se ele consegue este retorno anormal. Na maioria dos casos não existe persistência de performance, ou seja, um gestor que consegue um retorno acima da média em um período dificilmente consegue em períodos seguintes. Assim se qualquer um aceita colocar seu dinheiro em um fundo de investimento ou segue alguma indicação de compra/venda está fazendo por sua conta e risco. Ninguém é inocente ou está sendo enganado. Apenas comprou uma posição de risco.
Agora sobre o LTCM - eu não sabia que no plano de premiação do Nobel havia a garantia de infalibilidade ou ausência eterna de erros. O LTCM havia assumido posições mais arriscadas em busca de retornos esperados maiores, e devido aos eventos da crise Russa (na verdade uma sequencia bem mais complexa de eventos) o fundo entrou numa posição de insolvência devido a sua elevada alavancagem. Apenas pagou o preço de uma situação para o qual existia probabilidade positiva.
Agora eu pergunto - aonde este evento contraria alguma noção básica de finanças?
Além disso depois da quebra do LTCM, como antes, os modelos de precificação de ativos derivados dos trabalhos de Merton, Scholes, o finado e genial Fisher Black continuaram a ser usados, na verdade com um crescimento ainda muito maior, como é fácil de ver pela evolução do volume e variedade de contratos derivativos transacionados. A teoria matemática de finanças evolui enormemente depois deste evento - a idéia de precificação em mercados incompletos, precificação por não-arbitragem na presença de custos de transação; os conceitos de No Free Lunch With Vanishing Risk; o conceito de Consistent Price System, derivativos de volatilidade e variância, etc. etc etc.
Picaretagem é sair falando de um assunto que desconhece completamente. Mas se quiser estudar um pouco eu coloquei anteriormente algumas indicações de bons livros de finanças.
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