domingo, fevereiro 10, 2008

Heterodoxia Bayesiana

O princípio fundamental de inferência bayesiana é a combinação da informação a priori com a informação presente na amostra (verossimilhança), para construir a distribuição a posteriori dos dados. O uso de informação a priori é a uma das principais controvérsias entre os estatísticos clássicos e os bayesianos, já que a priori pode ter um peso grande na determinação da posteriori em muitas situações.
Mas o uso de inferência bayesiana é justificado em vários aspectos - corresponde a um processo de updating, resolve muitos problemas práticos de inferência (vide métodos de MCMC) e o uso da informação é realizado de uma forma transparente (as priors tem que ser elicitadas ou então se usam priors não informativas). Além disso tratar o parâmetro como sendo uma variável aleatória tem um apelo muito forte.
Mas o fundamental é que mesmo com o uso da informação a priori, inferência bayesiana é baseada no princípio da verossimilhança, isto é, usar a informação que está na amostra disponível, para construir a posteriori que condensaria toda a informação, e que é efetivamente um processo de aprendizado. Esta seria a grande justificativa para o uso desta metodologia, já que seria equivalente a um processo de aprendizado racional, usando toda a informação disponível. A priori é importante porque pode incorporar informação subjetiva e o conhecimento específico do analista sobre o problema estudado.
Mas lendo o excelente comentário do Alexandre Schwartsman , vejo que nossos heterodoxos criaram um novo tipo de inferência, baseado no princípio da prior imutável. Este princípio diz que independende de qualquer informação nos dados, você mantém sempre a mesma opinião sobre os assuntos. Qualquer evidência contra a sua priori deve ser descartada. O princípio baseado no ódio a verossimilhança. E qualquer priori contrária deve ser ignorada, já que se trata de golpismo da mídia direitista.
Eu já tinha escrito algo sobre isso, mas post do Alexandre foi matador. Eu acho que estou ouvindo este papo desde 1991.
Acho que é o momento da revisão do Manifesto da Econometria Política.

6 Comments:

Blogger Alex said...

Eu sou meio suspeito para comentar este post Márcio, mas está mesmo excelente. Fora os comentários sobre CDs de jazz, incluindo meus sempre favoritos Miles e Trane.

Abs,

Alex

10:49 AM  
Blogger Unknown said...

Caro Márcio,
o link para o "manifesto da econometria política" não está funcionando no site que tu indicastes.
Caso tenhas o arquivo, será que tu podes disponibilizá-lo no site?
Abraços!
Felipe

11:50 AM  
Blogger Alex said...

Márcio:

Segue abaixo o Manifesto. Se precisar do arquivo original, me avise (alexandre.schwartsman@hotmail.com)

MANIFESTO DA ECONOMETRIA POLÍTICA

Cesse tudo o que a antiga musa canta
Que um valor mais alto se alevanta

Nós, os econometristas políticos, em nome da honra de nossa profissão (seja lá o que isto for), vêm por meio deste MANIFESTO demonstrar nosso repúdio aos métodos quantitativos burgueses, neoclássicos, ortodoxos, tradicionais, estáticos e reacionários (vide M. POÇÇAS, 1988, pág. 24) e resgatar os valores político-sociais-morais-ideológicos-dialéticos-culturais-dinâmicos-e-acumulativos-de-capital: o caso brasileiro (vide M.C. TAVARICH, 1988, pág. 24) que hoje se põem como a única alternativa viável à feudalização da Econometria Brasileira (vide L.C. BELEZZA, Anais do XXIV Congresso do PE do B, 1988, pág. 24). Propomos uma nova formulação crítica da Econometria Política fundamentada nos princípios que se seguem:

1. Por que, de maneira autoritária, se impõe E(u) = 0? Isto é uma forma afintosa de camuflar a apropriação do excedente da clafe trabalhadora. Por que não 12% ao ano? (a este respeito vide F. GASPARIAN, 1988, Paz & Terra, pág. 24);
2. Por que o erro é denotado por “u” e não “e”? Isto é mais um artífifio para confundir a clafe trabalhadora (vide W. BARELLI, 1988, pág. 24);
3. Quem, afinal, define porque o estimador é justo? A justeza do estimador só pode ser definida após uma ampla discussão democrática com a clafe trabalhadora (vide P. A. SAMPAIO JR., 1988, pág. 24);
4. A lógica totalitária da Econometria Neoclássica impõe que os coeficientes sejam ou positivos ou negativos. Por que não coeficientes dialétricos, positivos e negativos ao mesmo tempo? (vide J. C. BRAGA, 1988, pág. 24);
5. Por que utilizar variáveis quantitativas quando as relações essenciais de produção são qualitativas? Sem embargo (vide C. FURTADO, 1988, pág. 24), propomos a utilização apenas de variáveis dummy (vide LESSA DE QUEIROZ, 1988, pág. 24);
6. Por que utilizar séries de tempo lógico (não veja G. SCHWARTZ, 1988, pág. 24), quando o correto é utilizar séries de tempo histórico (agora sim, vide G. SCHWARTZ, 1988, pág. 24)

Dadas as inconsistências não-contraditórias, imorais, totalitárias e estáticas, entre a realidade dinâmica e a Econometria Neoclássica, propomos aqui o programa de pesquisa da Econometria Política:

1. Aceitar e questionar a existência do Erro Tipo III: admitir que esteja errado quando não está certo. (vide, p. ex., DON JOÃO MANUEL, In: O Capitalismo Retardado, passim.);
2. Consertar a curva de demanda quebrada, que a Econometria Neoclássica permitiu, por mais de cinqüenta anos, que permanecesse no mais hediondo abandono, apesar dos esforços do companheiro Sweezy (vide OLIVEIRA DE CHICO, 1988, pág, 24);
3. Mudar a sede das simulações de Monte Carlo para Cubatão (SP) (conf. proposta de RUHYM AFFONSO, In: Por que eu sou marxista-quercista-leninista?);
4. Substituir as equações de diferença por equações de igualdade, de forma a não reproduzir a estrutura social injusta do capitalismo monopolista-maduro-caindo-aos-pedaços-e-retardado (vide P.T.P.L.S. – porque é de menor – no seu famoso compêndio Isto é uma mierrrrda; ou Lo que Cuércia realmente quiso decir, Edições BADESP, 1988, pág. 24);
5. Substituir os métodos de regressão linear, de cunho claramente monetarista e recessivo (vide Wilson TUBOS & CONEXÕES, 1988, pág. 24), pela progressão não linear em retrocesso (vide F. MASUQQELLI, A esculhambação em processo, 1988, pág. 24);
6. Trocar os nomes de heterocedasticidade, homocedasticidade, homossexualidade (SMITH, KEYNES & quiçá RICARDO, 1988, pág. 24) e multicolinearidade por nomes mais simples, como joão, manuel, cardoso, dimello (vide D. MUNOZ, Pobremas da infração brasileiras e brasileiros, 1988, pág. 24);
7. Substituir os índices de Laspeyres e Paasche pelo índice do DIEESE (vide P. BAU’TAR, 1988, pág. 24);
8. Criar, como pólo de debate nacional, a REVISTA DE ECONOMETRIA POLÍTICA, destarte (vide FURTADO, 1988, pág. 24), a ser editada pela Ed. Motta & Conexão Brasiliense (ligada a futura Universidade Federal Tecnológica de Tocantins – UFETOCAN – a 88 mil quilômetros e 24 metros de São Paulo, a partir da Sé), cujo Conselho Editorial será formado por Brecha Pereira, Brecha Pereira, Brecha Pereira, Brecha Pereira, Brecha Pereira, Brecha Pereira, Nukano e Brecha Pereira

TODO PODER EMANA DO POVO, DE JOÃO, DE MANUEL, DE CARDOSO E DE MELLO

Campinas, primavera florida de 1988

12:38 PM  
Blogger Unknown said...

Alex

Apesar do post ser destinado ao Márcio, te agradeço por disponibilizar o Manifesto.

Abraço!

Felipe

6:03 PM  
Anonymous Anônimo said...

Márcio,
Não sei se você tem algum preconceito, mas sinto que está prestes a se tornar um bayesiano, embora tenha entendido que o post não é exatamente sobre inferência estatística.
Não que eu tenha nada contra os seguidores do Reverendo. Pelo contrário. Bem-vindo a este lado da força.
Ouvindo Jimmy Smith (Sometime I'm Happy - Softly as a summer breeze)

2:24 AM  
Blogger Márcio Laurini said...

Anônimo

Não tenho nenhum preconceito não, muito pelo contrário. Venho estudando estatística Bayesiana, e já apliquei em dois artigos. Em um deles os resultados são excelentes se comparados a inferência clássica (artigo, em andamento é Extensões Bayesianas do Modelo de Estrutura a Termo de Diebold-Li http://www.ibmecsp.edu.br/pesquisa/download.php?recid=3113).
Bela música.

[]s e tudo de bom.

7:49 PM  

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