"Richards demonstra mais prazer quando descreve a sensação de tocar seu instrumento, em particular a guitarra elétrica que, diz ele, é “como se agarrar numa enguia-elétrica”. O momento de revelação em Vida é puramente musical e ocorre “no final de 1968 ou início de 1969”, depois que Richards descobre um dos segredos do blues. As seis cordas da guitarra são normalmente afinadas em mi-lá-ré-sol-si-mi. Depois de colaborar com o grande instrumentista e arranjador Ry Cooder, Richards pegou a afinação “em sol aberto”, em que a guitarra é afinada num acorde em sol: ré-sol-ré-sol-si-ré. Bluesmen do Mississipi como Robert Johnson, Son House e Charley Patton usavam essa afinação; Don Everly também, em Bye Bye Love. Richards retirou a corda mais baixa de uma Fender Telecaster afinada em sol-ré-sol-si-ré e produziu os riffs de Tumbling Dice, Brown Sugar, Honky Tonk Women, All Down the Line, Can’t You Hear Me Knocking, entre outros. Qualquer pessoa que tenha tocado numa banda de garagem nos anos 60 e 70 lembra da experiência de tentar tocar essas músicas e descobrir que elas não tinham o ronco, o som ressoante que Keith Richards produz em, digamos, Get Yer Ya-Ya’s Out!, o melhor disco ao vivo dos Stones. Agora, evidentemente, é possível ir ao You Tube, escrever, digamos, Brown Sugar, aula, e aparece um garoto de 14 anos com uma câmera de vídeo e uma guitarra, ensinando a usar a afinação em sol aberto e “tocar como Keith”. O próprio Keith explica melhor: “Se você está tocando o acorde da maneira certa, consegue ouvir um outro acorde soando por trás, que você não está tocando, mas que existe. Isso desafia a lógica. O acorde está lá dizendo: ‘Vem.’”"
"Um dos momentos mais tocantes do livro é quando os jovens Rolling Stones chegam aos estúdios de gravação da Chess, em Chicago, a Meca do blues. Um operário está pintando o teto. O nome do operário é McKinley Morganfield, mais conhecido como Muddy Waters. Os Stones estavam a caminho de uma vida de milionários e o mínimo que poderiam fazer era render homenagem aos seus heróis. Batizaram a banda com o título de uma música de Morganfield e cantaram louvores a ele e a todos os outros antepassados mais talentosos do que eles."Grande Keith. Seja nos momentos geniais, ou nos momentos ruins, eles sempre tiveram a alma verdadeira. E isso foi sempre o que valeu, desde os primeiros acordes em open G de Son House.
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